quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um filho de fé


Numa praia deserta caminhava um filho de fé, atormentado por suas mágoas e provações. Buscava por um alento, um consolo.

Buscava forças e um sinal de esperança, para poder continuar lutando. Olhava fixamente para as águas do mar. Uma lágrima entristecida, cobriu-lhe a face, seu coração apunhalado pelas intrigas e maldades dos seus irmãos, já se tornavam insuportáveis.

Notou que já estava entardecendo e o vento soprou em seu rosto, trazendo-lhe a intuição da Senhora dos Ventos, Mãe Iansã. Ele a saudou com alegria e sentiu suas mágoas serem levadas pelo vento. A paz começou a renascer.

Olhou para o poente e viu no céu as nuvens avermelhadas, então com grande força saudou o Senhor das Demandas, seu Pai Ogum, e aos poucos o peso que lhe afligia se quebrava, para que continuasse caminhando.

Observou na beira d´água, epixinhos dourados a cintilar, seu coração se encheu de doçura e saudou Mamãe Oxum, que o abençoava com seu sagrado e divino manto.

Aos poucos, leves gotas de chuva tocavam a sua pele e a paz de espírito e o amparo que sentiu o fez lembrar-se de Nanã Buruquê, que com sua lama sagrada, aliviou por completo suas dores, causadas pelos tormentos materiais e espirituais.

Ele a saudou efusivamente.

Perdido em seus pensamentos, o filho de fé, caminhava fascinado, quando uma brisa tocou seus cabelos e junto com ela trouxe folhas distantes.

Sem hesitar saudou Pai Oxossi, e pediu que aquelas folhas lhe purificassem e o livrassem de todos os sentimentos impuros.

Sua concentração foi interrompida ao ver um raio iluminar o céu. Ouviu um alto estrondo que lhe encheu o peito de coragem. "Kaô Kabecilê", e sentiu a mão forte de seu Pai Xangô.

Então confiante, não mais sofria pelas injustiças, pois seu Pai lhe protegia.

Admirado, sentou-se à beira mar, olhou o céu e viu uma constelação.

Lembrou-se das almas benditas e dos adoráveis Pretos Velhos.

Lembrou-se ainda do Pai Obaluaiê, que aos poucos, com seu fluído milagroso curava as chagas do seu corpo e espírito.

Fixou o olhar no céu, e nas nuvens brancas que rodeavam as estrelas, viu que uma delas brilhava e cintilava, como se fosse o centro do Universo.

Humildemente, nosso irmão de fé agradeceu a Pai Oxalá por ter lhe dado o Dom da Mediunidade e poder levar alento e paz aos irmãos necessitados.

Sentiu então um perfume exalando de dentro do mar. Eram rosas perfumadas que chegavam até seus pés, e aí avistou Mãe Iemanjá. Seu coração não se continha de tanta alegria, sua mãe o amparava e o confortava, e veio à sua mente.

A elevação espiritual, não está na força ou sabedoria, mas sim em seu coração.