segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A ansiedade dentro do terreiro

Muitos dos que frequentam um terreiro de umbanda, querem fazer parte ativamente, querem fazer parte da corrente, querem incorporar, querem dar consultas, querem tudo isso e muito mais.
Será que estão preparados para assumir tamanha responsabilidade?
RESPONSABILIDADE com letras maiúsculas, com todo o peso que esta palavra tem dentro de um ritual de umbanda. Ser responsável primeiro por si próprio para depois assumir a responsabilidade de cuidar do outro.
Para vestir o tão sonhado branco, é preciso se vestir de humildade, respeito e conhecimento. Mas quantos se dão conta deste fato? Posso dizer pelo que vejo, que são poucos os que tem o pé no chão, a maioria tem a cabeça nas nuvens da ilusão.
Ao longo destes anos todos dentro da religião, ainda vejo aqui e ali uma legião de neófitos querendo passar a frente do seu "tempo", o tempo que todos temos para aprender e amadurecer. Pular etapas, ultrapassar limites, não faz evoluir mais rápido, muito pelo contrário.
A humildade tem que existir e se mostrar através do respeito ao solo que se pisa, a corrente astral que lhe acolheu, ao dirigente espiritual que lhe orienta e ampara, aos irmãos mais velhos que chegaram primeiro e já amadureceram e entenderam o valor da simplicidade.
A ansiedade em "consultar" tem que ser substituída pela vontade de aprender, de se preparar para melhor ajudar a todos que buscam o terreiro para amenizar suas dores físicas, mentais, emocionais e espirituais. Afinal, só estando bem e tendo conhecimento, é que podemos fazer o bem sem olhar a quem.


terça-feira, 6 de outubro de 2015

O despertar da mediunidade


Quando o ser humano chega nesta Terra com a "missão" da mediunidade, traz consigo mecanismos inerente a função. Por ser singular e único na criação, cada médium tem seu tempo certo ara que o despertar aconteça.
Eu mesma tive minha experiencia um tanto peculiar, e diferente da maioria dos médiuns que conheço, e vou dividir com vocês em um pequeno relato.
Bom, como  maioria dos umbandistas tive minha infância inserida na religião católica, frequentava missas aos domingos, e cheguei a fazer a eucaristia, porem no momento em que deveria seguir para a crisma, decidi que não mais faria parte da religião. Passei alguns anos longe de qualquer tipo de religião (neste período eu era adolescente), apenas acreditando em Deus como força Maior.
Aos meus 19 anos fui apresentada ao kadercismo, onde fui levada a um centro espirita (Perseverança, acho que muitos conhecem), no começo tive receios, as vezes pensava que tudo aquilo não passava de "fantasia" da mente daquelas pessoas, até que comecei a ler os livros de Alan Kardec e passei a entender melhor como funcionava o "lado de lá".
Passei alguns anos entre um frequência assídua, e outros totalmente longe do centro. Até que um dia após varias situações estressantes e conflitantes na minha vida, onde tudo dava errado, resolvi que queria ir em um lugar mais "pesado", um lugar onde meus problemas pudessem ser resolvidos, de que forma eu não sabia, apenas queria me livrar de todo aquele mau bocado que estava passando, então minha mãe me levou a um centro de umbanda. 
Ao chegar ao local que era pequeno e estava lotado de pessoas (das mais variadas idades, raças, posição social e etc), notei que os trabalhos já haviam começado e aquele som, aquele vibrar do atabaque soou forte dentro de mim. Não havia mais lugar para sentar e de tão cheio que o local estava, minha mãe e eu ficamos próximas a porta de entrada (unica porta de acesso). De repente eu comecei a passar mal, meu coração começou a bater acelerado, minhas mãos suavam, me faltava o ar e comecei a ficar tonta. Minha mãe pensou que eu estava passando mal devido ao espaço ser pequeno e por estar aglomerado de gente o ar não circulava, e ela tentou me levar para fora. 
Tudo aconteceu tão rápido, que não sei precisar se passaram apenas alguns minutos ou apenas segundos, o que sei é que  meu corpo começou a se mexer sem o meu controle, meus olhos se fecharam, momentaneamente perdi a consciência, e assim que abri meus olhos (e meu corpo dançando sem meu controle) eu estava em frente ao congá daquela casa de caridade. Eu estava INCORPORADA! Era o Caboclo, era ele que ali estava utilizando meu corpo, fazendo sua dança e saudando as forças que regiam aquele lugar.
Mais uma vez não sei quanto tempo se passou, pois ora eu via tudo com os meus olhos, ora eles se fechavam e eu imergia na inconsciência. 
Após esses período, o Caboclo desincorporou. E eu me vi em frente a um médium, que ficava em frente ao congá, um senhor que tinha idade para ser meu avô, mas estava ereto numa postura austera e olhando fundo em meus olhos, baforando um charuto em volta de mim, me falou: "você tem mediunidade, precisa desenvolver"
Eu olhei pra ele, desesperada, com medo, o que havia sido aquilo, era tudo o que eu queria dizer, mas de minha boca não saíram estas palavras de duvida, ao invés, eu apenas disse à ele: "eu não sei o que fazer"
Ele então me disse: "volte a semana que vem, venha vestida de branco"
Saí daquela casa absorta em meus pensamentos que estavam povoados por duvidas e medo. E apenas uma certeza, eu voltaria na próxima semana.
E voltei.
Bom, a maioria dos médiuns que conheço teve sua mediunidade despertada aos poucos,  ora um sintoma aqui, ora outro ali, dentro de um terreiro, desenvolvendo aos poucos a cada gira, sempre acompanhados por Guias espirituais.
Comigo foi diferente, mas sei que cada pessoa só passa por aquilo que precisa passar.
E apesar de tudo, sou grata por ter sido exatamente assim, pois daquela quinta-feira eu nunca mais me esquecerei, e foi a partir daquela data que eu coloquei meu pé na Umbanda pra nunca mais sair.



Caminhando...

Após tanto tempo (anos? sim 03 anos) ausente deste blog, resolvi voltar a ativa. Resolvi fazer dele um lugar para aprender mais sobre a Umbanda, para escrever o que penso (segundo o meu ponto de vista) embora eu saiba que não sou detentora da verdade absoluta, e nem tenho esta pretensão; mas quero sim usar este espaço para compartilhar e aprender. A vida é mutável, tudo muda o tempo todo, e o aprendizado faz parte da evolução do ser humano. A religião tem o papel de religar, e no caso da Umbanda, ela tem o papel de nos religar ao sagrado, religar ao amor divino. E os meios que a Umbanda utiliza para isso, são diversos e infinitos. E nesta caminhada, que estou há pouco mais de 10 anos, onde sempre quis aprender, aprender e aprender, pois toda ritualística da Umbanda tem seu papel de importância fundamental dentro dos trabalhos e, para o médium exercer a sua parte é necessário que saiba o que está fazendo. Ao logo destes anos tenho visto muita coisa e muita gente agindo por impulso, se deixando guiar pelo ego e extravasando sua vaidade. Já fui assim? Sim, já experimentei a dor e a vergonha, de deixar o lado sombrio (que todos temos) vir a tona. Mas aprendi, aprendi que a humildade, a servidão, e o amor pelo próximo deve ser maior que qualquer coisa dentro da religião. Que durante os trabalhos espirituais, o médium é parte importante e que para ser um bom instrumento deve deixar de lado toda e qualquer prepotência, e se vestir de branco por dentro. Agradeço a Deus, aos Orixás, aos Guias e Protetores por permitir que eu faça parte desta imensa egrégora de amor chamada Umbanda. Gratidão _/\_

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Os elementais na Umbanda

Elemental significa “Espírito Divino”. El = senhor; mental = vibração mental superior. Estes são os espíritos da natureza. Deus, concedeu a três Reinos, paralelamente, a oportunidade de evolução e estes três Reinos são: Elemental, Angelical e Humano. A história mesmo fala sobre os seres elementais, desde a mais remota antiguidade. E, os antepassados de toda a humanidade legaram inúmeros relatos a respeito dos mesmos. No início da humanidade na Terra, os seres da natureza, encarregados de cada elemento, cuidaram para que tudo fosse feito com exatidão e ordem: 1) - A Terra ainda sendo uma massa de gases de matéria incandescente radioativa, coube naquele momento aos elementais do fogo executarem seu trabalho; 2) - Na época dos grandes ventos, os elementais do ar, zelaram pela evolução desses gases de modo a tornar o ambiente apto a receber formas de vida: 3) - Quando esses gases se precipitaram sobre a água, os elementais da água modificaram o aspecto denso desse líquido; 4) - Então, iniciou-se a solidificação, surgindo aos poucos os continentes que foram fertilizados pelos elementais da terra. A criação representa um todo inseparável, uma corrente cujos elos não podem ser rompidos. Os Elementais são os dinamizadores das energias das formas e integram-se aos Elementos da Natureza: Elemento Terra: Esse elemento e seus dinamizadores trabalham para que a humanidade tenha corpos perfeitos, e possam desenvolver suas atividades espirituais a nível cósmico. A ação qualificadora destes seres é representada por vulcões e terremotos. No nosso corpo, este elemento é representado pelos sais minerais. Livres da ganância, nos aproximamos dos Seres da Terra. Trabalhando com a terra temos: Os Gnomos e os Duendes, que são entidades que habitam as florestas e lugares desertos. Têm a forma semelhante aos anões e atuam sobre tudo e, sobre todos os que habitam ou transitam nas matas e florestas, dando sinais através de Bicho de Pau, cobras e aves como a Graúna, Melro e semelhantes. Altura aproximada de 15 a 20 cm. Elemento Água: Este elemento e os seres que fazem parte dele estão relacionados ao nosso corpo emocional, tendo a função de depurá-lo. No plano físico, são grandes agentes de purificação da atmosfera e principalmente na agricultura. Sua ação qualificadora é demonstrada em enchentes, maremotos etc. No corpo humano, o elemento líquido representa 70% do seu volume. Livres das fraquezas, através da firmeza, nos aproximamos dos Seres da Água. Trabalhando com a água temos: As Ondinas ou Ninfas, que são entidades do amor, que vivem nas águas do mar, lagos, lagoas, rios e cachoeiras, semelhantes às graciosas mocinhas de cabelos longos. Comandam toda a fauna aquática e podem encaixar (incorporar) na forma de sereias, dragões, serpentes marinhas, gaivotas, etc... Altura aproximada de 30 cm. Elemento Fogo: Esse elemento, e todos os seres que habitam o mesmo, representam a maior força possível, uma vez que são a expressão do próprio Fogo Sagrado de onde provém as várias chamas atuantes nos universos. A ação qualificadora deste elemento provém das atividades vulcânicas e grandes queimadas. No corpo humano, esse elemento funciona através da temperatura, expressões emotivas e psíquicas. Dominando as nossas paixões, nos aproximamos desses seres. Trabalhando com o fogo temos: As Salamandras, que são entidades diretas do fogo, que não possuem forma definida. Tem-se, quando as vemos, a impressão de uma forma fundamentalmente humana, o rosto, quando não é velado pelas chamas, é de aparência humana, mas a maior parte das vezes apresentam-se na forma de lagartixas, camaleões ou escorpiões. Altura aproximada de 70 a 90 cm. Elemento Ar: Esse elemento e seus dinamizadores são de extrema importância, para a manutenção da vida no plano físico. Sem o Ar, o ser humano não pode sobreviver. A atividade benéfica dos Seres do Ar é sentida na brisa, no impulso dos barcos, navios e aviões. Sua atividade qualificadora está nos furacões, ciclones, tempestades. No corpo do homem o ar está na respiração, no alento divino. Com a constância, o homem aproxima-se dos seres do ar. Trabalhando com o ar temos: Os Silfos, que são entidades de pequena estatura, de poderes mágicos, que os diferem dos outros espíritos da natureza, por serem de uma constituição sem forma definida, uma massa semi-sólida de substância etérea. Exemplo: Fumaça, efeitos de luz através dos pirilampos, Aurora Boreal, arco-íris, etc...

Saudação a Exu e Pombagira

O médium ao adentrar no terreiro deve Saudar as Forças dos Srs. Exus/Guardiões e das Sras. Pombagiras/Guardiãs assentadas na Tronqueira e para tanto, deve parar por alguns minutos de frente à tronqueira e com a cabeça baixa, agradecer a permissão de sua entrada naquela Casa Santa. Caso seja necessário, nesse momento também se pede para os espíritos negativos, que por ventura estão perturbando o equilíbrio do médium, sejam recolhidos e encaminhados pela Força da Esquerda com a permissão de Ogum, consequentemente o agradecimento e os momentos de permanência de frente à tronqueira serão maiores. Portanto deve-se sempre agradecer a guarda, a força e a proteção que ELES proporcionam em nossas vidas e ao terreiro. Normalmente e dependendo do terreiro, durante esses momentos de agradecimento bate-se palmas três vezes e/ou toca-se no chão saudando o “embaixo” também três vezes pronunciando sua saudação que é “Laroye Exu. Exu é Mojubá!”.Segundo a ‘Enciclopédia brasileira da Diáspora Africana’ de Nei Lopes, Laroye significa: interjeição de saudação a Exu, um dos nomes de Exu e Mojubá significa: fórmula de saudação e reverência, dirigidas pelos fiéis aos orixás. Do ioruba ‘mo juba’, “eu (te) reconheço como superior”.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Paz Profunda

Havia um Rei que ofereceu um grande prêmio ao artista que fosse capaz de captar em uma pintura a Paz Profunda.

Muitos artistas apresentaram suas telas.

O Rei observou e admirou todas as pinturas, mas houve apenas duas de que ele realmente gostou e teve de escolher entre ambas.

A primeira era um lago muito tranqüilo. Este lago era um espelho perfeito onde se refletiam plácidas montanhas que o rodeavam. Sobre elas encontrava-se um Paraíso muito azul com tênues nuvens brancas.

Todos os que olharam para esta pintura pensaram que ela refletia a Paz Profunda.

A segunda pintura também tinha montanhas. Mas estas eram escabrosas e estavam despidas de vegetação. Sobre elas havia um Paraíso tempestuoso do qual se precipitava um forte aguaceiro com relâmpagos e trovões. Montanha abaixo parecia retumbar uma espumosa torrente de água. Tudo isto se revelava nada pacífico.

Mas, quando o Rei observou mais atentamente, reparou que atrás da cascata havia um arbusto crescendo de uma fenda na rocha. Neste arbusto encontrava-se um ninho. Ali, em meio ao ruído da violenta turbulência da água, estava um passarinho placidamente sentado no seu ninho... Em Profunda Paz!

O Rei escolheu a segunda tela e explicou: — PAZ PROFUNDA não significa estar em um lugar sem ruídos, sem problemas, sem trabalho árduo para realizar ou livre das dores e das tentações da encarnação. PAZ PROFUNDA significa que, apesar de se estar em meio a tudo isso, permanecemos calmos e confiantes no SANTUÁRIO SAGRADO do NOSSO CORAÇÃO. Lá encontraremos a Verdadeira PAZ PROFUNDA.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Prece poema à "Pai Benedito de Aruanda"


Meu bondoso Preto-Velho!


Aqui estou de joelhos, agradecido contrito, aguardando sua benção.

Quantas vezes com a alma ferida, com o coração irado, com a mente entorpecida pela dor da injustiça eu clamava por vingança, e Tu, oculto lá no fundo do meu Eu, com bondade compassiva me sussurravas ESPERANÇA.

Quantas vezes desejei romper com a humanidade, enfrentar o mal com maldade, olho por olho, dente por dente, e Tu, escondido em minha mente, me dizias simplesmente:

“ Sei que fere o coração a maldade e a traição, mas, responder com ofensas, não lhe trará a solução. Pára, pensa, medita e ofereça-lhe o perdão. Eu também sofri bastante, eu também fui humilhado, eu também me revoltei, também fui injustiçado.


Das savanas africanas, moço, forte, livre, num instante transformado em escravo acorrentado, nenhuma oportunidade eu tive. Uma revolta crescente me envolvia intensamente, por que algo me dizia, que eu nunca mais veria minha Aruanda de então, não ouviria a passarada, o bramir dos elefantes, o rugido do leão, minha raça de gigantes que tanto orgulho tivera, jazia despedaçada, nua, fria, acorrentada num infecto porão.

Um ódio intenso o meu peito atormentava, por que OIÀ não mandava uma grande tempestade? Que Xangô com seus raios partisse aquela nave amaldiçoada, que matasse aquela gente, que tão cruel se mostrara, que até minha pobre mãezinha, tão frágil, já tão velhinha, por maldade acorrentara. E Iemanjá, onde estava que nossa desgraça não via, nossa dor não sentia, o seu peito não sangrava? Seus ouvidos não ouviam a súplica que eu lhe fazia? Se Iemanjá ordenasse, o mar se abriria, as ondas nos envolveriam; ao meu povo ela daria a desejada esperança, e aos que nos escravizavam, a necessária vingança.


Porém, nada aconteceu, minha mãezinha não resistiu e morreu; seu corpo ao mar foi lançado, o meu povo amedrontado, no mercado foi vendido, uns pra cá, outros pra lá e, como gado, com ferro em brasa marcado.


Onde é que estava Ogum? Que aquela gente não vencia, onde estavam as suas armas, as suas lanças de guerra? Porém, nada acontecia, e a toda parte que olha, somente um coisa via... terra.


Terra que sempre exigia mais de nossos corpos suados, de nossos corpos cansados.


Era a senzala, era o tronco, o gato de sete rabos que nos arrancava o couro, era a lida, era a colheita que para nós era estafa, para o senhor era ouro.


Quantas vezes, depois que o sol se escondia, lá no fundo da senzala, com os mais velhos aprendia, que no nosso destino no fim não seria sempre assim, quantas vezes me disseram que Zambi olhava por mim.


Bem me lembro uma manhã, que o rancor era grande, vi sair da casa grande, a filha do meu patrão. Ingênua, desprotegida, meu pensamento voou: eis a hora da vingança, vou matar essa criança, vou vingar a minha gente, e se por isso morrer, sei que vou morrer contente.


E a pequena caminhava alegre, despreocupada, vinha em minha direção, como a fera aguarda a caça, eu esperava ansioso, minha hora era chegada. Eu trazia as mãos suadas, nesse momento odioso, meu coração disparava, vi o tronco, vi o chicote, vi meu povo sofrendo, apodrecendo, morrendo e nada mais vi então. Correndo como um possesso, agarrei-a por um braço e levantei-a do chão.


Porém, para minha surpresa, mal eu ergui a menina, uma serpente ferina, como se ora o próprio vento, fere o espaço, errando, por minha causa, o seu bote foi tão fatal, tudo ocorreu tão de repente, tudo foi de forma tal, que ali parado eu ficara, olhando a serpente que sumia no matagal.


Depois, com a criança em meus braços, olhei meus punhos de aço que a deviam matar... olhei seus lindos olhinhos que insistiam em me fitar. Fez-me um gesto de carinho, eu estava emocionado, não sabia o que falar, não sabia o que pensar.


Meus pensamentos estavam numa grande confusão, vi a corrente, o tronco, as minhas mãos que vingavam, vi o chicote, a serpente errando o bote... senti um aperto no coração, as minhas mãos calejadas pelo machado, pela enxada, minhas mãos não matariam, não haveria vingança, pois meu Deus não permitira que morresse essa criança.


Assim o tempo passou, de rapaz forte de antes, bem pouca coisa restou, até que um dia chegou e Benedito acabou...


Mas, do outro lado da morte eu encontrei nova vida, mais longa, muito mais forte, mais de amor e de perdão, os sofrimentos de outrora já não importam agora, por que nada foi em vão...

Fomos mártires nessa vida, desta Umbanda tão querida, religião do coração, da paz, do amor, do perdão”.



Por Pai Ronaldo Linhares